Por Denise Silva e Fábio Santiago*
Num país de passado escravista e presente racista, há um desafio para quem, como nós, deseja ver transformações efetivas: desenhar e executar políticas públicas de diversidade, equidade e inclusão social. Isso requer garantirmos diversidade e equidade também na própria gestão pública.
Quando se trata de postos de liderança na administração pública, eles têm gênero e cor muito bem definidos. O relatório Desigualdade de Gênero e Raça na Política Brasileira, do Instituto Alziras e da Oxfam Brasil, analisou o perfil das candidaturas eleitas para o Executivo e o Legislativo nas últimas duas eleições municipais e mostrou que a igualdade racial entre pessoas eleitas pode levar 20 anos para ser atingida no Brasil. A igualdade de gênero, mais de um século.
O problema vai além dos nomes eleitos. Está também na própria burocracia. O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) radiografou o perfil dos cargos comissionados de direção e assessoramento da administração pública, os denominados DAS. Segundo dados de 2020, até o nível 3 desses cargos no governo federal, homens e mulheres de cor negra totalizam 28,9%. Já no nível 6, o mais alto (e com maior remuneração e poder decisório), pessoas negras somam apenas 14,4%.
Governos podem fazer mais e melhor ao desenvolver sua capacidade de servir e entregar políticas públicas. O caminho para isso são as pessoas. E para que a burocracia cumpra seu papel democrático de responder às demandas de toda a população, a composição do serviço público deve representar mulheres e homens de todas as raças, cores e etnias.
Com isso em mente, diversidade, equidade e inclusão são valores contemplados de forma transversal na Vetor Brasil, com metas em todos os programas. Essa preocupação atraiu parceiros como a Microsoft, com quem idealizamos o Programa Formando Gestores pela Equidade, capacitando gestores como embaixadores pela equidade racial no setor público. Outra iniciativa é o Programa Ubuntu, voltado para profissionais pretos e pardos que atuam no setor público com o objetivo de ampliar e consolidar sua participação em posições de liderança nos governos.
Acreditamos que grandes transformações acontecem através do setor público. A filantropia é o catalisador dessa transformação. Por isso convidamos organizações, fundações, institutos e pessoas físicas que estejam dispostas a apoiar essa causa: criar uma rede engajada e diversa que potencialize o setor público brasileiro.
Queremos debater esses temas e apresentar nossos programas, com a convicção de que esse trabalho não estará completo se essa rede não for balizada pela diversidade, pela equidade e pela inclusão.
*Denise Silva é Gerente e Fabio Santiago é Diretor da Unidade de Impacto de Diversidade, Equidade e Inclusão da Vetor Brasil, organização suprapartidária e sem fins lucrativos que atrai, seleciona e desenvolve profissionais públicos de alto desempenho.