Presente em 14 Estados da Federação, a primeira edição do programa Formando Gestores pela Equidade Racial que se iniciou no mês de fevereiro, conta com 40 participantes, na sua maioria mulheres. O objetivo do programa é formar gestores do setor público brancos e não brancos, aptos a contribuir pela Equidade Racial.
O setor público deve ser o primeiro a alavancar políticas de equidade racial
Para Ingrid Herdeiro Gomes, Chefe de Gabinete do Instituto de Previdência dos Servidores do Estado do Maranhão, uma das participantes do Programa, foi uma surpresa positiva ter sido selecionada. “Com este projeto espero me posicionar melhor no ambiente de trabalho quanto às pautas relacionadas à raça”, afirma. “Espero também obter subterfúgios e argumentações suficientes para criar mecanismos de inserção de pretas e pretos na média gestão do setor público”, afirma.
Ingrid estudou a maior parte da sua vida em colégio militar, e apesar de ser público, não tinha muitos colegas negros. “Ninguém da minha família tampouco se autodenomina como negro e não passamos por situações discriminatórias”, conta. “Mas quando fui para a graduação em ciência política e posteriormente o mestrado em sociologia, pude ter mais clareza sobre a importância do tema”.
Ela pontua que seu primeiro artigo científico publicado durante o mestrado trazia à tona questões relacionadas à temática. “Busquei outros artigos acadêmicos que tinham qualquer terminologia que se relacionava com o assunto, como “nao-brancos”, “negros”, “pardos”, “pretos”, em que tempo esses termos eram utilizados, em quais espaços e porque. Foi o período que mais me aprofundei na questão e a partir de então me sensibilizei ainda mais com a causa e aqui estou”.
Segundo Ingrid, é bem incomum no setor público, encontrar negros em cargos de gestão. “Desde que estou como gestora, já contratei 4 pessoas negras, mas antes disso não havia nenhuma na equipe, e acredito que o setor público deve ser o primeiro a alavancar políticas de equidade racial”, conta. “Estamos passando por um duro período de adaptação, ouço frases racistas e discriminatórias e isso me incomoda muito. Não sei a melhor forma de lidar com o assunto, mas espero que na formação eu me sinta mais preparada para saber como agir em situações como esta”, finaliza.
Oportunidade única de aprendizado e troca
Murilo Alves da Silva, Coordenador de Desenvolvimento e Treinamento na Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão, acredita que participar do programa é uma oportunidade única de aprendizado e troca, sobre uma temática na qual sempe quis se aprofundar e poder fazer diferente. “Uma gratidão imensa poder partilhar experiências com pessoas do Brasil todo”, afirma.
Murilo vem de uma cidade com 7 mil habitantes no interior paulista, chamada Tarabai. Em suas horas de folga ele gosta de cozinhar e fazer origami. Mas, o trabalho no setor público sempre foi seu objetivo. “Trabalhei no setor público até passar no TGP, onde fui alocado em São Luís do Maranhão. Fui trainee por dois anos. Sou graduado em Administração e Gestão Pública”, conta. “Espero aprender com as experiências que estão sendo passadas no decorrer do programa, assim como ter ferramentas, ampliar minha visão e adquirir novos conceitos sobre o que é diversidade, equidade e inclusão”.
Segundo ele, a equidade no serviço público ainda é pouco discutida e pensada. “Aqui onde atuo, ainda são raras as ações voltadas à diversidade e poucas pessoas negras nas posições de liderança com poder de tomador de decisão”, pontua. “Agora estamos começando a trilhar uma jornada com a elaboração da política de diversidade da Companhia. Estamos constituindo também o comitê gestor de Diversidade, Equidade e Inclusão, com o objetivo de desenvolver esta cultura, tornando a equipe mais inclusiva e diversa, e o programa me mostrará caminhos para levar tudo isso adiante”, finaliza.
Tirando um véu dos olhos
Patrícia Morais Coutinho, Superintendente de Organização e Atendimento Educacional em Aparecida de Goiania/BA, outra participante do Programa, acredita que vai ser um divisor de águas na sua carreira. “A gente só consegue defender o que entende, espero que com o programa, eu tenha conhecimento suficiente para levantar a bandeira da equidade racial”, afirma. “É como se eu tivesse tirando um véu dos meus olhos, é fazer uma leitura e ter um entendimento que eu nunca tive”.
Ela conta que vem de uma cidadezinha do interior da Bahia chamada Correntinas, e não tinha essa visão do que é racismo. “Eu vim de escola pública, e sempre olhei para todos da mesma forma. Na minha cabeça, todos tinham as mesmas oportunidades e direitos. Mas percebi que não era bem assim, quando eu concluí o ensino médio e saí de lá”, afirma. “Anos depois eu voltei para implementar uma faculdade online e quem foi se tornar aluno, foram os meus antigos colegas que não tiveram a chance de sair de lá para estudar, então ficou claro para mim como nem todos tem as mesmas oportunidades”.
Segundo Patrícia, depois de uma longa carreira tanto no setor privado quanto no público, ela foi líder de projeto do Programa do Instituto Unibanco, e foi aí que ela teve mais contato com pessoas que buscavam sempre a equidade e garantias de direito. “Essa era uma bandeira muito forte que todos defendiam, mas até então eu não tinha maturidade suficiente para ter um discurso muito franco sobre equidade racial”.
Para ela, o fato de alguém afirmar que não é preconceituoso, não significa que não tem preconceitos. “Quando eu olhava para os meus colegas, achando que eram todos iguais em oportunidades, isso também foi um tipo de preconceito”, pontua. “Eu não enxerguei as necessidades das pessoas, eu coloquei todas na mesma régua e isso torna tudo muito injusto”.
Patricia afirma que quando se fala em equidade racial, e passa a entender o porque do sistema de cotas, por exemplo, a percepção muda e ela sente a necessidade de levantar esta bandeira porque isso faz toda a diferença. “Abrir os olhos para este sistema nosso que ainda é muito racista, é um dos objetivos que eu tenho com o Programa Formando Gestores pela Equidade”, explica. “Aqui na Secretaria Estadual de Educação temos discutido muito sobre o assunto. Não é um diálogo fácil, é desafiador, mas estamos avançando”, finaliza.
Sobre o programa:
A primeira edição do Programa Formando Gestores pela Equidade Racial, tem como intuito formar gestores do setor público em conteúdos prioritários para disseminar equidade racial como um pilar em suas ações nos governos brasileiros. A Microsoft é parceira deste programa.
A primeira turma foi aberta para 40 participantes e nosso público alvo são gestores do setor públicos (brancos e não-brancos) de todo o Brasil, a formação será 100% online e tem como objetivo ser uma jornada ativa e prática de aprendizagem, através de conteúdos multimídia e ambientes interativos para acolher diferentes perfis e senioridades de gestores públicos.